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Seres humanos, a tecnologia e o futuro II

Os sistemas vivos

Determinismo estrutural Os sistemas vivos possuem uma característica fundamental, que é o determinismo estrutural: "Os sistemas vivos são sistemas determinados estrutralmente, ou seja, são sistemas tais que tudo o que lhes acontece a qualquer momento depende de sua estrutura - que é como eles são feitos a cada instante". Isto significa dizer que "qualquer agente que incida sobre eles apenas desencadeia neles mudanças estruturais determinadas neles próprios". Diferente do que comumente pensamos, um agente externo não determina o que acontece no sistema que ele incide, ele apenas desencadeia. Exemplo: "...gostaríamos que o outro ouvisse o que dizemos, mas isso não acontece, a menos que venhamos interagindo <...> um com o outro por um período sufuciente longo para nos tornarmos estruturalmente congruentes <...> Quando isso acontece dissemos que compreendemos um ao outro"

Congruência com o meio Um sistema vivo sempre muda congruentemente com o meio, pois está em constante interação e regulação com seu meio. Portanto, um sistema, vivo sempre aparecerá para um observador, tanto o sistema vivo, quanto o meio mudando juntos.

Domínios da existência Os sistemas vivos existem em dois domínios operacionais: 1) sua composição (anatomia e fisiologia) e 2) seu meio (domínio ou meio no qual eles surgem e existem). Embora esses dois domínios não se intersectam e não haja nenhuma relação causal entre eles, o que ocorre são relações gerativas recípricas. Ocorre portanto uma interação: mudanças na anatomia e fisiologia resultam em mudanças na maneira em que ele interagem com o meio, e por outro lado, as interações do sistema vivo com o meio desencadeiam nele mudanças na sua configuração.

Características do ser humano

O linguajar A linguagem é peculiar aos sistemas vivos humanos. A linguagem é o "espaço operacional no qual realizamos nosso viver enquanto humanos". "Tudo o que nós seres humanos fazemos, nós fazemos na linguagem <...> o linguajar é nosso modo de existir como seres humanos".

Conversação "tudo o que é humano se constitui pela conversa, o fluxo de coordenações de coordenações de fazeres e emoções. Quando alguém, por exemplo, aprende uma profissão, aprende em uma rede de conversações." A conversasão é uma rede de entrelaçamento consensual de emoções e comportamentos.

Cultura "É uma rede fechada de conversações consensuais que é tanto aprendida como conservada pelas crianças que nela vivem <...> Além disso, no curso, da nossa história vivemos na conservação de cada mundo que vivemos como se ele fosse a própria base de nossa existência, e assim fazemos numa dinâmica de conservação, cujo resultado é que todos nós começamos a mudar em torno da maneira de viver". Por isto não percemos esta mudança.

Como nos tornamos um tipo ou outro de ser de acordo com a maneira como vivemos, então a questão importante é: Qual tipo de ser queremos ser?

Identidade e cultura Identidade de um sistema é o que define um sistema como um sistema de um tipo particular. A identidade não é intrínseca a ele e é conservada nas interações do sistema com o seu meio, na cultura, de maneira dinâmica, ao longo da evolução biológica do sistema.

"Portanto podemos ser , de acordo com a cultura que vivemos e conservamos em nosso viver, mas ao mesmo tempo podemos deixar de ser seres humanos de um tipo ou de outro ao mudarmos de cultura, dependendo da configuração de emoções que dá à cultura que vivemos ser caráter particular."

Emoções e racionalidades As emoções é que dão à cultura que vivemos seu caráter particular. São as emoções que guiam a todo nosso agir. É o emocionar que especifica o nosso agir, nosso tipo humano, nossa identidade humana e não nossa conduta racional ou nosso uso de um tipo ou outro de tecnologia.

"...sabemos que todo domínio racional se funda em premissas básicas aceitas a priori, isto é, em bases emocionais, e que são nossas emoções que determinam o domínio racional em que operamos como seres racionais em cada instante <...> Ou seja, usamos diferentes tecnologias de acordo com nossas preferências ou desejos. Portanto são nossas emoções que guiam nosso viver tecnológico, não a tecnologia. Esta relação pode ser vista na história dos ancestrais:
"... poderemos ver que diferentes procedimentos tecnológicos foram usados por nossos ancestrais ao longo de milhares de anos, e que as mudanças tecnolóficas que fizeram estavam relacionadas a mudanças em seus desejos, em seu gosto ou suas preferências estéticas, independentemente de como sua forma de viver tenha mudado a partir daí." Se é a emoção que guia nosso agir, por que então, raramente estamos conscientes desse fato e frequentemente afirmamos o contrário: estar sendo guiados pela razão?
"... acontecem duas coisas com nosso viver racional. Uma é que usamos nossa razão para sustentar ou para esconder nossas emoções, e o fazemos frequentemente sem estarmos conscientes do que fazemos. A outra é que normalmente não estamos totalmente conscientes das emoções sob as quais escolhemos nossos diferentes argumentos racionais."

A consequência disso:

  1. Nos tornamos prisioneiros da crença errônea de que os conflitos humanos são racionais

  2. Crença de que as emoções destroem a racionalidade - que é fonte de desordem

  3. Não comprendemos nossa existência cultural

"Ao não comprendermos os fundamentos emocionais de nosso agir, tornamo-nos prisioneiros tanto da crença de que os conflitos e problemas humanos são racionais - e portanto devem ser  resolvidos através da razão -, quanto da crença de que as emoções destroem a racionalidade e são uma fonte de arbitrariedade e desordem na vida humana. E a longo prazo não compreendemos nossa existência cultural"

Referência: MATURANA, Humberto. Cognição, Ciência e Vida Cotidiana. Belo Horizonte:ed UFMG, 2000. 203 p

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