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Filipe Levi conta sobre sua experiência como pesquisador do usuário no C.E.S.A.R

Esta é a segunda da nossa séria de entrevista que pretendemos fazer. A idéia é que profissionais da área de UX (user experience) respondam algumas perguntas sobre sua trajetória, o mercado de UX e compratilhe sua experiência conosco. A entrevista que posto hoje é com o Filipe Levi. Filipe é pesquisador do usuário no Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R). É mestrando em IHC pelo Centro de Informática da UFPE, onde pesquisa sobre computação ubíqua e aprendizado conversacional. Filipe é embaixador local da User Experience Network (UXnet) e moderador do UXrecife, uma rede profissional com cerca de 130 participantes. 1. Como você decidiu estudar IHC, UX? Descobri a área de IHC em 2002 quando, durante a graduação em Computação na UFPE, tive o primeiro contato em uma disciplina obrigatória. Antes disso eu estava confuso porque, apesar apreciar outras áreas da Computação (em especial inteligência artificial e processamento gráfico), o mercado empregava essencialmente engenheiros de software. Sempre admirei a arte por trás da programação, mas nunca quis ser um engenheiro de software por ver que este perfil era muito comum. Além disso, uma sina me levou à área de IHC: sempre busquei pesquisar em níveis mais abstratos. Tendo como modelo as camadas em que um software está estruturado, meu interesse saltou das camadas mais baixas do código (como as camadas de rede, de dados, de negócio etc.) para as mais altas e abstratas, chegando à interface gráfica e daí a compreender os usuários e suas reais necessidades. O segundo “salto” aconteceu quando, começando pela usabilidade, senti naturalmente a necessidade de considerar outros aspectos mais subjetivos, como o próprio conceito de satisfação do usuário. A idéia achou embasamento principalmente em trabalhos como Emotional Design, de Don Norman. 2. Como você foi trabalhar no C.E.S.A.R? Entrei no C.E.S.A.R em 2003 durante a graduação em um projeto científico na área de mídias. Nesse período não trabalhei com usabilidade, mas conheci a equipe de design. À época ainda não existia mercado para profissionais de usabilidade em Recife. Contudo, surgiu a oportunidade de montar um pequeno time de IHC no C.E.S.A.R para trabalhar inicialmente em um projeto de acessibilidade. Após apresentar meu trabalho de conclusão à banca na faculdade segui para meu primeiro dia de trabalho. Teve início um pequeno núcleo de usabilidade na empresa, formado por mim (vindo da Computação), Ubirajara de Lucena (vindo do Design) e Paulo Melo (vindo da Psicologia). 3. Qual é o seu trabalho no C.E.S.A.R? Inicialmente era auxiliar na criação de produtos e serviços úteis e com boa usabilidade. Trabalhava ao lado de analistas de requisitos, engenheiros de software e designers gráficos. Pelo fato de muitas vezes ter sido o único profissional nos projetos em contato com os usuários finais, pude desenvolver habilidades em muitas etapas de um processo de design centrado no usuário: pesquisa com usuários para entendimento das necessidades, facilitador de técnicas de ideação para gerar soluções, prototipação em baixa e média fidelidade, e condução de testes com usuários. Hoje sou responsável por traçar estratégias de atuação de UCD em vários projetos, definir atividades e ser a “cola” entre o trabalho de vários profissionais que atuam mais fortemente em uma ou outra etapa do processo de UCD. Meu dia-a-dia envolve: auxiliar na criação de propostas de venda de projetos baseados em UCD; instanciar nosso processo para os novos projetos, definindo estratégias, atividades e cronograma de UCD; participar de reuniões com clientes; conduzir pesquisa em campo com usuários; facilitar técnicas de ideação; prototipar soluções em baixa e média fidelidade; estruturar, conduzir, analisar e comunicar testes com usuários em laboratório; auxiliar no processo de seleção de novos colegas em usabilidade; facilitar a integração destes novos colegas na empresa; relatar nosso trabalho em artigos técnico-científicos; representar a equipe em congressos e eventos etc. 4. Que tipo de projeto você desenvolve lá dentro? Quando o foco era apenas engenharia de usabilidade, atuei muito em projetos de desenvolvimento de software. Os domínios sempre foram bem variados: aplicações para web, desktop, TV digital interativa, quiosques, serviços móveis, jogos para celular, dispositivos para transportes, espaços interativos etc. Hoje atuo mais em projetos de inovação centrada no humano. Projetamos experiências (utilizando tecnologia digital ou não) baseadas em visões multidisciplinares do usuário em questão. Toda eventual interface de software ou hardware (bem como o desenvolvimento do código subjacente) é vista como apenas uma parte da experiência que estamos projetando. 5. Como é estruturada a equipe do C.E.S.A.R? O C.E.S.A.R é composto por várias equipes que interagem constantemente entre si, como: design, engenharia, sistemas embarcados, testes, reuso, qualidade etc. Por sermos uma corporação de médio porte, contamos com áreas de suporte, como: capital humano, negócios, marketing, comunicação, suprimentos, sistemas internos etc. Temos ainda um instituto de ensino superior, filiais e escritórios em outras cidades brasileiras. 6. Como é o processo de trabalho de vocês? Criamos um processo de inovação centrada no usuário chamado “Círculo Mágico” baseado na ISO 13407. Trata-se de um processo cíclico e incremental, composto de quatro etapas: pesquisa com usuários, ideação, prototipação e avaliação. Por ser genérico, podemos instanciar tal processo de acordo com a natureza própria de cada problema com que lidamos, escolhendo que técnicas utilizar em cada etapa e que perfis deverão compor a equipe do projeto. Em projetos tradicionais de desenvolvimento de software, temos utilizado o Círculo Mágico no início para termos uma visão geral dos usuários e suas necessidades. Nesse momento, o nível de fidelidade dos protótipos ainda é na esfera dos cenários, mas já é possível priorizar (do ponto de vista dos usuários) que áreas são mais importantes e devem ser compreendidas mais a fundo a partir daí. Dessa maneira, fazemos o planejamento das iterações seguintes de forma a entregar mais rapidamente aquilo que é mais essencial para os usuários. Cada iteração costuma acontecer como segue: como sabemos que grupo de necessidades deverá ser explorado na próxima iteração, nós rodamos o Círculo Mágico já na iteração anterior (nível de fidelidade do protótipo indo de papel para wireframe), de forma que os engenheiros iniciem a próxima iteração já tendo em mãos protótipos verticais baseados em pesquisas e validados com usuários. Na prática, procuramos estar uma iteração a frente da equipe de engenharia, validando o sistema em termos de interface com usuário antes de qualquer linha de código ter sido escrita. Ainda na iteração atual, executamos testes com usuários da versão implementada na iteração anterior, bem como acompanhamos o dia-a-dia da implementação na iteração atual. 7. Qual o objetivo do User Experience Designer dentro do C.E.S.A.R? O objetivo de nossa equipe é entender como as pessoas vivem para projetar experiências de valor. Dessa forma, buscamos aumentar o lucro de nossos clientes (parceiros para inovação) ajudando-os a criar experiências de valor para seus usuários. Procuramos também evangelizar a cultura do design centrado no usuário em nossa organização e também fortalecer nosso ecossistema colaborando com colegas de outras empresas. 8. Como é medido o desempenho da área de design? Pela qualidade das experiências que projetamos para os clientes de nossos clientes (os usuários) e pela margem de lucro que nossos projetos têm trazido à instituição como um todo. 9. Qual o perfil dos profissionais que trabalham com você? A equipe de Design de Experiências do C.E.S.A.R é composta por pesquisadores nos mais diversos perfis. Embora cada um tenha uma ou duas verticais de atuação mais evidentes, todos buscamos compreender mais sobre o trabalho uns dos outros. O que faz essa equipe multidisciplinar trabalhar afinada é justamente nosso processo de design centrado no usuário. Assim, somos todos projetistas (designers) nos mais diversos backgrounds: engenharia de usabilidade, design de interfaces, antropologia, design de produto, computação, design de interação, psicologia cognitiva, design gráfico, marketing, ilustração e engenharia de software. Também convidamos especialistas em domínios específicos para integrar a equipe dependendo da natureza dos problemas com que lidamos. 10. O que você recomendaria para quem está começando na área de design de interação e user experience? Determinação e paciência. Não pule do barco na primeira onda. Experiência do usuário, como filosofia de trabalho, está apenas começando no mundo todo, e vejo no Brasil um potencial enorme. Mas para vencer os desafios é preciso aprender a colaborar com pessoas que compartilhem os mesmos princípios e objetivos. Outra recomendação é: desenvolva a habilidade de trabalhar em equipes cada vez mais transdisciplinares, com pessoas com bagagens de vida bem diversificadas. Enxergue seus colegas como usuários, facilitando seu dia-a-dia de modo a proporcionar uma experiência memorável de trabalho em equipe. Divertir-se no que faz e dar boas risadas com amigos (inclusive das diferenças) é essencial!

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