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Entrevista com Melissa Quintanilha, user experience designer da Microsoft

Mais uma da série de entrevistas com profissionais de UX no Brasil e no mundo. Melissa Quintanilha é User Experience Designer da Microsoft, estudou informática na UFRJ e Design em Ohio State. Ela conta sobre sua trajetória e práticas da profissão de UX nos Estados Unidos. 1. Como foi a experiência de estudar em Ohio State? O quanto e como você considera que essa formação foi importante para sua carreira? Fazer um mestrado na Ohio State foi uma experiência intensa, de muita dedicação e totalmente essencial para minha evolução pessoal e profissional. Desde quando eu estudava informática na UFRJ que eu tinha o sonho de fazer um mestrado em design no exterior. Apesar de estudar informática, eu sempre trabalhei com design e sabia que era lá onde estava minha paixão. Não desisti da informática pois via que esses conhecimentos complementavam meus conhecimentos de design, me dando um diferencial em relação a outros designers. Eu sabia falar de igual pra igual com os desenvolvedores e entendia a tecnologia que suportava os designs que eu desenvolvia. Mas eu sentia a necessidade de estudo formal na área de design. Me formei em Informática no final de 2003 e no meio de 2004 tive a oportunidade de ir trabalhar como User Interface Designer na Siemens Coporate Research em Princeton, New Jersey. Não era ainda o mestrado, mas uma oportunidade de trabalhar no exterior com um grupo de designers e pesquisadores. Enquanto estava nos Estados Unidos, enviei minha documentação para a Ohio State, fui selecionada e comecei o mestrado depois de 1 ano trabalhando na Siemens. Fiquei 3 anos morando em Columbus, Ohio, para concluir o mestrado. Foram 3 anos muito puxados, de dedicação intensiva, pouquissimo tempo livre e diversos desafios. Foi essencial pra minha formação ter que lidar com tantos desafios enquanto aprendia tanta coisa. Acho que aprendi mais em 3 anos do que na minha vida profissional inteira. Foram os 3 anos mais difíceis, mas muito essenciais. Na Ohio State eu trabalhei com professores maravilhosos que incentiraram sempre minhas paixões. Desenvolvi projetos que nunca achei que fosse capaz. Essa experiência me ensinou muito, me mostrou qual a minha verdadeira paixão e me deixou mais confiante. 2. Como você foi trabalhar na Microsoft? Com a idéia de fazer contatos para futuros empregos e também aprofundar minha experiência, resolvi escrever um paper sobre meu projeto de mestrado e enviar para congressos internacionais. Fui aceita em 3 congressos e fui apresentar meu trabalho na Dinamarca, Itália e China. O congresso que fui na Itália é o maior na área de interação homem-computador (http://www.chi2008.org/) e esse ano fui selecionada para participar da competição de pequisa de estudantes. Consegui uma bolsa parcial da Ohio State para ajudar nas despesas da viagem e fui. Durante o congresso teve uma feira de empregos e eu fui dar uma olhada e conversar com as empresas que estavam participando. Vi as vagas disponíveis e resolvi aplicar para algumas. O processo de aplicação era o seguinte: Você pegava uma folha da feira de emprego, colocava seu contato, dizia para que vaga estava aplicando, grampeava seu curriculo e colocava numa pilha infinita. Sinceramente, não achei que sairia algo daí, mas eu acabei saindo do congresso com 3 entrevistas agendadas. Uma delas com a Microsoft. Eles gostaram do meu portfolio e da minha dupla formação em Informática e Design. Um mês depois fui para Redmond em Washington passar por um dia inteiro de entrevistas. 3. Qual é a sua função e quais são as suas atividades na Microsoft? Na Microsoft, trabalho como User Experience Designer. Minha função é criar designs e interações para um dos softwares da Microsoft. Na equipe de User Experience, somos só eu e um pesquisador para este produto. Os outros designers, pesquisadores, escritores, gerentes e terceirizados trabalham em outros produtos que servem a uma mesma população de usuários (profissionais de TI). Trabalho diretamente com vários PMs (Program Managers) para desenvolver a experiência de várias features do produto. Cada PM escreve as especificações para uma determinada área do software. Mas tanto o designer quanto o pesquisador têm uma grande influência em decidir sobre o que realmente estará nas mãos do usuário. Também trabalho diretamente com vários desenvolvedores, testers e escritores. Enquanto o meu trabalho é criar o design das experiências dos usuários, o pesquisador que trabalha comigo desenvolve pesquisas, testes de usabilidade, focus groups e escreve relatórios sobre os resultados da pesquisa e dá recomendações de como melhorar a experiência do usuário. Juntos, quando estivermos planejando a versão 2.0 do produto, iremos fazer visitas a várias organizações de TI para observar os usuários e fazer pesquisas etnográficas. O meu trabalho envolve a criação rápida de soluções de design/interação e depois iterar sobre elas diversas vezes, até chegar à melhor solução. E como lá é um lugar muito aberto, você pode se envolver em outras iniciativas que não são atreladas ao trabalho do dia-a-dia de desenvolver um produto. Se você quiser pode se focar apenas no trabalho relacionado à um produto, mas existem muitas oportunidades de trabalho paralelo. Além de infinitas oportunidades de treinamento. Se você se interessa por alguma área de pesquisa, pode desenvolver algo em paralelo que possa melhorar os produtos da Microsoft em geral. Isso não pode tomar muito do tempo de trabalho direto, mas dá pra fazer e é bem gratificante. 4. Que tipo de projeto você desenvolve lá dentro? Trabalho num projeto novo que será lançado no início de 2010. É da família de produtos System Center e o software que estou desenvolvendo se chama Service Manager (http://www.microsoft.com/systemcenter/en/us/service-manager.aspx). Este software está sendo desenvolvido para ser uma solução mais completa de HelpDesk para organizações de TI. Ele permitirá o gerenciamento de tickets, mudanças, equipamentos, problemas, etc. Ou seja, tudo que uma organização de TI precisa para funcionar bem. É um software de gereciamento e eu estou tendo que me familiarizar com essa área. Em breve vou conhecer pessoalmente nossos usuários. A maioria das nossas personas são profissionais de TI. 5. Como é estruturada a equipe de user experience da Microsoft? A Microsoft tem várias equipes de user experience. São mais de 600 profissionais de UX em toda a empresa. Ainda não conheco bem as outras, mas posso dizer como é estruturada a minha. Minha equipe se chama MAX (Management and Administration Experience). É uma equipe de 25 profissionais de UX que suporta softwares de administração e gerenciamento para grandes organizações de TI. Trabalhamos com os seguintes softwares: System Center Configuration Manager, System Center Essentials, System Center Service Manager (o meu), System Center Online, Windows Server, etc. Nossa equipe é formada por designers, pesquisadores, uma escritora e alguns terceirizados. Em cada produto trabalham um pesquisador e um designer. O legal de coloca-los em dupla assim, é que dessa forma UX vai ser sempre mais ouvida nas camadas superiores de decisão. Cada grupo de produtos tem um gerente e são 3 gerentes no meu grupo. O meu gerente coordena todos os produtos da familia System Center. O meu grupo faz parte da STB (Server & Tools Business), que é uma das divisões da Microsoft. Outras divisões têm seus grupos de user experience. 6. Como vocês envolvem os usuários no processo? Usuários são envolvidos no processo em diversos momentos e o legal é que o designer sempre faz parte desses momentos. Inicialmente usuários são envolvidos quando fazemos site visits -- como uma pesquisa de campo onde vamos aonde o cliente trabalha para observa-los e conhece-los melhor. Também enviamos pesquisas online, fazemos focus groups e chamamos usuários para testes de usabilidade. Um grupo de usuários faz parte do Technology Adoption Program (TAP) da Microsoft. Eles respondem entrevistas, vêem interfaces e interagem com os protótipos em primeira mão. A versão Beta é sempre lançada a eles em primeiro lugar e depois ao público em geral que também nos dá feedback. 7. Qual o objetivo do User Experience Designer dentro da Microsoft? O User Experience Designer deve estar envolvido desde o início da concepção de um projeto, ajudando na decisão de qual é a "coisa certa a fazer" e de "como fazer a coisa certa". É trabalho do designer se focar nos objetivos e necessidades do usuário e pensar se uma determinada "feature" do produto está realmente servindo essas necessidades. É nosso trabalho visualizar como será a experiência do usuário ao realizar diversas tarefas e fazer com que sejam uteis e faceis de usar. O UX Designer tem uma grande capacidade de influenciar produtos lançados pela Microsoft pois temos o poder de não somente satisfazer nossos usuários, e sim superar suas expectativas. Temos o poder de aumentar a lealdade aos produtos que criamos. Nossos designs são usados por milhões de usuários no mundo todo permitindo com que eles façam seus trabalhos e sejam produtivos. Isso é muito poderoso. 8. Como é medido o desempenho da área de design? O desempenho das experiências que projetamos é medido através de testes de usabilidade realizados em laboratórios. Às vezes testamos bem cedo no processo, quando os protótipos estão ainda em papel. Às vezes testamos protótipos na tela, mas que só tem algumas áreas clicáveis. Outras vezes testamos protótipos funcionais, mas isso leva mais tempo para ser criado. A idéia é trazer usuários em diversos momentos do processo para conseguir o máximo de feedback possível. Trazemos usuários, pedimos para eles executarem algumas tarefas e medimos a performance. Depois disso, o designer analisa as recomendações que vieram dos testes e ajusta o design, melhorando a experiência do usuário para futuros testes. 9. Qual o perfil dos profissionais que trabalham com você? Minha equipe é composta por pesquisadores, designers, uma escritora para documentar nossos guidelines e alguns terceirizados. A maioria dos pesquisadores tem background na área de pesquisa cognitiva e engenharia de usabilidade. Alguns designers são mais fortes na área de design de interação, outros são bons também em design visual e até desenvolvimento. Trabalhamos com desenvolvedores e testers, que são bem tecnicos, e tembém com program managers que têm uma visão mais global do software. A equipe toda é muito internacional. No meu grupo tem gente dos Estados Unidos, Egito, India, Israel, Bangladesh, França, Russia, Canadá e Brasil. Comecei trabalhando com um program manager israelense, agora estou trabalhando com um indiano e em breve também com um Russo. É um ambiente muito rico que não se vê em nenhum outro lugar do mundo -- pois compreende todos os lugares do mundo ao mesmo tempo. 10. O que você recomendaria para quem está começando na área de design de interação e user experience? Quem trabalha nessa área deve haver um conhecimento de diversas outras áreas antes de poder executar seu papel. Na Microsoft, nós desenvolvemos produtos complexos. Um designer precisa chegar ao ponto aonde é natural trabalhar diretamente com engenheiros. Eu não gosto de usar a palavra artista para me referir ao designer, mas vejo um artista como alguém que traz significado e emoção à uma experiência. Vendo desta forma, o designer é sim um artista. Um artista que deve lidar com requerimentos muito específicos, o que o torna ainda mais especial. Da mesma forma eu acredito que grandes engenheiros são aqueles que conseguem pensar artisticamente e também logicamente. Alguém que quer entrar na área de UX deve estar sempre de olhos abertos e observar muito. Para poder transformar algo bom em algo ótimo, superar expectativas e ultrapassar o racional. Design e user experience fazem parte da criação do produto e não da otimização de um produto já criado. Pesquisa do usuário deve ser algo feito em conjunção com o designer, desde o início do processo, para observar diversos aspectos da vida das pessoas. Design não é algo preciso e sim criativo. Então é necessária muita observação, insights, não ter medo de inovar e questionar os atuais paradigmas da nossa profissão. Um designer deve observar pessoas, ver como elas trabalham, entender porque elas fazem certas coisas, o que elas desejam fazer e como podem fazer certas coisas de forma melhor. O designer deve entender quais são os objetivos, desejos e sonhos de seus usuários, para poder satisfazer todos os níveis de suas necessidades. Esta nas mãos do designer criar uma conexão emocional com o usuário através das experiências projetadas. Portfólio da Melissa: http://www.melissaquintanilha.com/

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