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Entrevista com Fabrício Dore, designer da IDEO

Fabrício Dore é atualmente designer de interação na IDEO. Já trabalhou também na Frog design, estudou na Umeå universitet e Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele compartilha aqui, parte de sua experiência. Como você decidiu estudar design ? A “decisão” por seguir uma carreira em design de interação não aconteceu exatamente da noite para o dia. Já desde criança sempre tive interesse por tecnologia (computadores, video-games, etc.) e a maneira como interagimos com ela. Muitos anos depois a explosão da telefonia celular no Brasil me levou à candidatura a uma vaga no curso de Engenharia de Telecomunicações na UFF. Os primeiros meses foram sofríveis. Não conseguia enxergar o dia em que iria de fato “projetar” algo como um telefone celular, por exemplo, no meio de toda a teoria sobre telecomunicações. Larguei a engenharia e no ano seguinte, em 2001, entrei para o curso de Design Industrial na Escola de Belas Artes da UFRJ. Em 2004, depois de graduado e após trabalhar por um ano como designer de produto, estava certo de que gostaria de ir para o exterior me especializar. Já conhecia o Umeå Institute of Design desde os tempos da faculdade e sabia também que o que eu vinha buscando no meu trabalho como designer não seria possível alcançar sem avançar meus estudos e, provavelmente, mudar de disciplina. Não queria criar apenas produtos, mas poder entender os usuários com mais profundidade e “projetar a interação”, além de ter mais contato com o que a tecnologia (internet, eletrônica, etc.) poderia oferecer. Na época não se falava sobre Design de Interação no Brasil. Foi relativamente difícil escolher para onde ir sem entender exatamente o que eu estava buscando. O programa de mestrado de Umeå tinha Design Industrial como parte de sua origem, o que facilitou o meu processo de transição. A escola oferecia um currículo com forte integração entre hardware e software, algo que sempre me fascinou. Fiz as malas e fui pro norte da Suécia. Como você foi trabalhar na IDEO? Ao final do primeiro ano de curso na Suécia, chegou a hora de correr atrás de um estágio para o verão. Além da IDEO, havia outras opções como Nokia, Electrolux, Siemens, Philips e diversos outros escritórios menores de design. Recebi respostas positivas e quase cheguei a me mudar para Munique, Alemanha, quando fui notificado que estava nas semi finais para conseguir a vaga na IDEO. Em Junho de 2006, fui para São Francisco e, em seguida, para Chicago, onde passei a maior parte dos 14 meses (!) de estágio na IDEO. Voltei para a Suécia em 2007 para terminar o curso em Umeå e devido ao meu interesse em ficar na Europa abdiquei à vaga para a IDEO em Chicago. Trabalhei para a frog design em Stuttgart por alguns meses quando surgiu a oportunidade de voltar para a IDEO, mas agora em Munique, e aqui estou eu. Qual é o seu trabalho na IDEO? Que tipo de projeto você desenvolve lá dentro? Essa é a pergunta mais difícil de responder já que o trabalho pode variar bastante. A IDEO é uma consultoria de inovação e os clientes normalmente nos procuram para solucionar os problemas mais complexos que estão enfrentando ou mesmo para determinar que direção devem seguir no futuro, por exemplo. No meio de tudo isso criamos cenários de futuro, empresas do zero, produtos (hardware/software), serviços ou ambientes. Ou seja, tudo que for necessário para transformar um conceito inovador em realidade. Desde que entrei para a IDEO trabalhei em um futuro centro de simulações para ensino de medicina; um telefone residencial de última geração com o qual o usuário acessa serviços da at&t (empresa americana de telefonia); desenvolvemos como será a interação com tecnologia (mídia, navegação, controles) dentro dos veículos de uma empresa automotiva americana; entre outros projetos de natureza variada. Ultimamente trabalhei em um projeto na área de Transformação daIDEO que lida com mudanças (ou transformações) em corporações para que se tornem mais inovadoras. Para esta empresa criamos um sistema interno participativo onde funcionários podem contribuir com idéias que são desenvolvidas em conjunto com colegas espalhados pelo mundo. Como designer de interação participo nesses projetos contribuindo com idéias e nas discussões e também projetando hardware e software de acordo com o que conceituamos. Como é estruturada a equipe de design da IDEO? A IDEO emprega: designers industriais, gráficos e de interação, arquitetos, business designers (responsáveis por projetar empresas; têm foco em negócios),human factors specialists (responsáveis por liderar as pesquisas com usuários), organization designers (responsáveis por projetar organizações de vários tipos, ou seja, definir o número de funcionários, cargos, incentivos e medidas), escritores, engenheiros mecânicos, elétricos, entre outros, antropólogos, etc. A lista é longa! No dia-a-dia trabalhamos em equipes multidisciplinares de 3 a 8 ou 10 pessoas dedicadas a um projeto por vez. Em um projeto para uma fabricante de carros americana, éramos: um engenheiro mecânico, dois designers de produto, dois designers de interação, um engenheiro elétrico e um de software e, um human-factors specialist. Todos dentro do mesmo project space por 3 meses. Na IDEO não existem departamentos e espera-se que cada funcionário possua o perfil que chamamos de T, ou seja, cada pessoa possui pelo menos uma área de conhecimento mais profundo, mas também demonstra interesse por outros áreas ao mesmo tempo. Como é a metodologia de trabalho de vocês? A metodologia da IDEO é mais simples do que parece. Não há nenhum segredo. Fazemos exatamente o que aparece nos livros, revistas ou qualquer outro meio de divulgação que já publicou sobre o trabalho da IDEO. Todo projeto, pequeno ou grande, envolve uma fase de imersão no dia-a-dia dos usuários. Durante este período muita informação é coletada em forma de anotações, video ou fotos. Voltamos para o escritório e após um período de análise seguimos para síntese de onde são estabelecidos os objetivos ou princípios de design. Pregamos para os clientes que é fundamental prototipar idéias o mais cedo possível. Esse protótipos, em geral de baixíssimo grau de refinamento, são apresentados a usuários ou mesmo internamente. Quanto mais idéias são sugeridas em brainstorms mais fácil para escolher ou fundir o melhor de cada uma também. Acho que o grande ‘segredo’ está na mistura dos profissionais, no otimismo e em acreditar que usando esse processo, por mais simples que ele seja, é possível criar soluções para os grandes problemas do mundo como a saúde pública nos Estados Unidos (http://www.ideo.com/work/item/nurse-knowledge-exchange/), as mudanças climáticas (http://livingclimatechange.com/) ou levar água a comunidades carentes na África (http://www.ideo.com/work/item/human-centered-design-toolkit/). Qual o objetivo do User Experience Designer dentro da IDEO? Pessoalmente tenho certo receio em utilizar o termo User Experience (UX) como parte do título de um designer. Então, os outros designers não são responsáveis pela experiência de uso de um produto, serviço ou ambiente? Em grandes corporações o UX Designer tem como função fundamental unir os pedacinhos da experiência, por exemplo, de um dispositivo (ex.: iPhone), com um software (ex.: iTunes), com a loja virtual de aplicativos, por exemplo. Obviamente o que soa simples no papel, na prática é muito mais complexo e envolve profissionais de áreas variadas que muitas vezes trabalham geograficamente separados. A versão “simplista” do UX Designer que já tive oportunidade de ver em uma das corporações que foi nossa cliente, foram profissionais de Usabilidade que tiveram a sua função elevada para UX Designer. Isso significa que não só são limitados ao projeto de software, deixando de lado as possibilidades da integração com produtos e serviços, como também possuem um visão limitada do que a Experiência de Uso realmente significa. Existem diversos produtos no mercado que nem só porque são fáceis de usar oferecem uma experiência nova e interessante para o usuário. Resumindo, na IDEO todos são responsáveis pelo design da experiência. Engenheiros vão ter uma opinião e designers outra, nesse diálogo muita coisa interessante pode acontecer. Como é medido o sucesso de um projeto? Acho que apesar de tudo a melhor medida de sucesso é quando vemos o que projetamos sendo implementado seja um serviço, um novo produto, um software, etc. Qual o perfil dos profissionais que trabalham com você? Atualmente trabalho com um business designer da África do Sul e outro da Inglaterra, um designer de interação alemão, um designer gráfico americano e uma publicitária americana. Porém, essa configuração pode mudar bastante de acordo com o desafio que temos que enfrentar em um determinado projeto. O que você recomendaria para quem está começando na área de design de interação e user experience? Acho que o mais importante é ter a mente aberta, buscar inspiração na arte, música e literatura, ter interesse pelas pessoas e culturas. Acho fundamental também estar sempre com a mão na massa, produzindo algo. Passar por uma boa faculdade na área é bom, mas em design nada supera a prática.

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